A vida nos tempos de coronavírus

Camila Martins
3 min readDec 15, 2020

Por Camila Miguel e João Malafaia
6 de abril de 2020

No dia 25 de fevereiro de 2020, uma terça-feira de carnaval, foi noticiado o primeiro caso do novo coronavírus no Brasil. Como se esperasse para ser o último a desfilar, a doença surgiu em São Paulo, trazida da Itália, e em menos de um mês se espalhou exponencialmente pelo território brasileiro, especialmente no estado epicentro. Como se já não tivéssemos nossas jabuticabas para lidar, vemos mais um problema estrangeiro entrar para nossa lista.

Ao mesmo tempo, também vimos a doença se alastrando desde o outro lado do mundo até atingir nosso país. As críticas ao governo federal têm se intensificado ao longo dos dias, ao passo que a certeza e confiança do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, vão se esvaindo conforme a desordem presidencial cresce.
No estado com o primeiro caso confirmado e com a maior população do país, a cultura paulista foi colocada em questão. Com o movimento diário de milhares de pessoas pelos meios de transporte, a agitada vida noturna em baladas e bares e os eventos semanais sediados na capital, cresceu a dúvida sobre os hábitos pela cidade e sobre o cuidado com ambientes públicos.

Apesar da conhecida fama de asseio — provavelmente por causa do clima tropical — que contribui na prevenção da COVID-19, a cultura brasileira é marcada pelo contato físico caloroso, aspecto que, em contrapartida, corrobora com o contágio. Como visto em países de costumes resguardados, por exemplo no Japão, pequenos detalhes como um cumprimento distante, podem ser essenciais no corte da transmissão do vírus. Até o momento, o país asiático tem registrado uma demora no crescimento da curva de contágio, apesar da proximidade do país natal do vírus.

Por aqui, as ações estão sendo impostas timidamente pelo governo federal. Começando com sugestões e recomendações, as entidades governamentais foram preparando terreno para, com um mês passado do primeiro contágio, decretar estado de calamidade pública. Apesar do caráter punitivista enraizado na sociedade brasileira, muitos cidadãos pareceram acordar mais rápido que o poder público para as consequências que estão por vir em avalanche. Sem esperar a regra se impor, milhares de brasileiros se estapearam por álcool em gel e, os que puderam, correram para casa.

Alertados pelo o que se passa na Europa, os governadores estaduais se mobilizaram com mais rapidez. Em Goiás, manteve-se apenas as fábricas de setores essenciais, como as de alimento, e o incentivo à produção de itens necessários para a saúde pública. O governador do estado, Ronaldo Caiado, apesar de apoiar de longa data Jair Bolsonaro, quebrou a aliança em desacordo com as atitudes federais.

A divergência de ideias dos poderes, principalmente em relação ao isolamento social — medida necessária-, se reflete em como o povo se comporta diante a pandemia. Por mais que uma considerável maioria leve o surto a sério, alguns seguidores do presidente persistem batendo na tecla de que tudo não passa de uma “gripezinha”, e que não podemos deixar que ela interfira em nossas vidas e, mais importante, na economia.

Entre aqueles que aderiram ao isolamento, o “jeitinho brasileiro” e o humor ainda despontam. Por todo país, as pessoas vêm mostrando suas maneiras de ficar em casa, respeitando o distanciamento social, mas dando um jeito de burlar o tédio. São inúmeros os vídeos de famílias fazendo shows em suas varandas, memes zoando a doença, comparando-a com outros momentos de tensão do Brasil e do mundo, além de lives que vêm circulando pela internet, mostrando que a vida realmente não pode parar, mas precisa se adaptar ao momento.

Mais que nunca, percebemos que nossas pequenas ações do dia a dia, como fazer compras presenciais no mercado, ir numa reunião de amigos ou simplesmente sair de casa, precisam ser repensadas — e evitadas. Elas não afetam somente a nós, mas podem causar uma reação em cadeia que prejudicará muitos.

Com previsões nada otimistas, o brasileiro se prepara para um longo período sem contato com muitas pessoas, sem festas, com o mínimo de saídas de casa e com muito tempo para o ócio. Nos adaptaremos à essa nova vida, sem saber as mudanças que nos aguardam depois dessa tempestade. Agora, só nos resta esperar e agradecer que o tempo fechou só depois o carnaval.

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Camila Martins

Estudante de jornalismo, amante de fotografia e entusiasta da moda